Sintra o destino mais místico e romântico de Portugal
Venha passar uns dias de encanto e romance!
Txt: Maria Bacelar
“Vi-a numa noite doce, em que o rouxinol cantava e todo o céu se estrelava, luminoso pavilhão. Era Sintra! Sinto ainda o doce correr das fontes e a sombra nas nossas caras das árvores do Ramalhão”
Eça de Queiroz in “A Tragédia da Rua das Flores”, 1980
As referências literárias a Sintra vão de Eça a Camilo, passando por Fernando Pessoa, Almeida Garret, Lorde Byron ou Hans Christensen. Na verdade, poucos conseguem ficar indiferentes a este lugar mágico. A neblina que a envolve, por vezes dias seguidos, torna esta vila um paraíso escondido na bruma para descobrir vagarosamente. Entre escarpas e montanhas, casas, solares, palacetes e chalets, descubra a cada minuto novos e secretos mundos.
Monserrate – De Devisme a Cook
Dizem os entendidos que o período áureo de Sintra aconteceu entre o final do século XVIII e todo o século XIX. Comecemos por Gerard Devisme e a construção que em 1790 leva a cabo na Quinta de Monserrate, o deslumbrante palacete neogótico que é hoje um símbolo mais proeminente do romantismo de Sintra. Embora Devisme tenha feito um investimento considerável foi posteriormente nas mãos do também abastado escritor William Beckford, um aristocrata inglês, que os jardins envolventes enriqueceram grandemente. O romancista projetou e fez nascer pequenos recantos, cursos de água e até uma cascata artificial que dotaram o lugar de uma beleza ainda mais inesquecível.
Cascata artificial de Monserrate que se diz ter sido feito por Beckford, no tempo em que o escritor por lá viveu.
Em 1856 Francis Cook, um milionário dos têxteis, adquire o Palacete convertendo-o na residência da família durante as longas temporadas que passavam anualmente em Portugal. De salientar que os Cook tiveram um importante papel no enriquecimento do valor artístico do palacete adquirindo centenas de obras de arte. A família fez ainda questão de comprar mais de uma dezena de quintas o redor de Monserrate para valorizar o espaço. Acabariam por ser forçados a vender a propriedade em 1947 na sequência de perdas financeiras inesperadas. Hoje o Palácio e referência de Sintra pertence ao Estado Português juntamente com 143 hectares da Tapada de Monserrate.
Cascata Artificial (Créditos parquesdesintra)
D. Fernando e o seu Palácio da Pena
Foi, no entanto, pela mão de D.Fernando II que Sintra ganhou o estatuto de cenário de conto de fadas, graças à obra de recuperação do Convento da Pena, antigo Mosteiro de Nossa Senhora da Pena. A obra de reabilitação converteu-o no Palácio da Pena tornando Sintra num cenário que povoa a imaginário das mentes mais românticas graças ao palacete de cores vibrantes encaixado numa escarpa.
Da operação de reabilitação fez também parte um plano de jardinagem notável levado a cabo por D.Fernando II e pela segunda mulher, Elise Hensler, atriz de teatro e cantora de ópera. Aliás, é ao casal que se fica a dever a abundante vegetação fora do comum do Parque da Pena que conta com raras e exóticas árvores que ainda hoje seduzem quem o visita. Também as imediações do palácio foram adornadas com fontes, cursos de água e falsas ruínas que o dotaram de uma beleza rara que perdura até aos nossos dias.
Depois da morte da primeira mulher, a rainha D.Maria II, D.Fernando e Elise passavam longas temporadas em Sintra afastados do bulício da cidade. Elise e Fernando ficaram conhecidos por valorizar a arte e a cultura refletindo-se essa paixão em tudo o que fizeram. D Fernando II ficou mesmo conhecido como o Rei-Artista.
Quando D. Fernando II adquiriu o Palácio em 1838 concebeu o espaço para lá passar tempo com a rainha D.Maria II, mas a morte inesperada da monarca aos 34 anos gorou-lhe os planos.
Porta Monumental do Palácio da Pena com um arco triunfal onde abundam elementos arquitetónicos portugueses do século XVI que remontam à altura em que o mosteiro foi construído.
D. Fernando II juntamente com a segunda mulher foi ainda responsável pela concepção e construção do Chalet da Condessa D’Edla mais um lugar encantado a descobrir no Parque da Pena. Uma construção singular desenhada e concebida pela própria condessa e pelo marido, construída entre 1864 e 1869 com clara inspiração nos chalets alpinos, um acolhedor e sui generis ninho de amor.
A não perder – Percursos pedestres para todos os gostos
O percurso transversal a artistas e visitantes que passam por Sintra tem como ponto de partida o Palácio da Vila e já que aí está aproveite para trincar uma queijada ou travesseiro da Piriquita espreitando as lojas pitorescas com produtos locais da inclinada rua principal. Depois é seguir pela estrada sinuosa que passa pela Quinta da Regaleira, Monserrate e Seteais. No regresso, paragem obrigatória pelo Castelo dos Mouros e Palácio da Pena, descendo depois de volta ao centro histórico da vila. Se preferir dividir as atrações a visitar, tome nota dos principais percursos pedestres.
Cada vez mais se viaja em busca de experiências ligadas a práticas ativas e a caminhada é um dos expoentes máximos dessa visão. É justamente isso que temos para lhe propor para este fim de semana. Cursos de água, horizonte a perder de vista, aventura, ecoturismo e cultura ao mais alto nível! Preparado? Vamos a isso!
Percurso de Santa Maria
Se é novato(a) nesta história das caminhadas o melhor é começar por um percurso de baixa dificuldade e nesse caso o percurso de Santa Maria pode ser o que procura. Menos de 2 quilómetros de extensão, de um percurso circular com destaque para dois monumentos icónicos: o Castelo dos Mouros e o Parque e Palácio Nacional da Pena. O caminho inclui caminhos pavimentados e de piso regular, mas também zonas de floresta com algumas inclinações abruptas. É recomendado para todas as idades embora exija uma preparação física moderada e faz-se numa hora. Grau de dificuldade: Fácil
Percurso da Lapa
Para quem já tem alguma experiência a caminhar este pode ser o percurso a escolher. Ideal para quem vem do percurso anterior (Percurso de Santa Maria). Este caminho tem algumas inclinações abruptas e troços de terra batida. Conduz diretamente à entrada principal do Parque da Pena levando o caminhante pela floresta dentro. Requer, como já referimos alguma preparação física. Demora cerca de 45 minutos, mas não se deixe enganar porque são 45 minutos com alguma exigência. Grau de dificuldade: Moderado
Percurso de Seteais
Inclui um troço de uma das mais belas estradas da serra seguido de um trilho com as mais singulares vistas sobre a vila. Requer um considerável grau de preparação física já que parte do trilho é em piso irregular e declive acentuado. É um percurso circular com cerca de 3 quilómetros e meio. Percorre-se em hora e meia. Passa pela Quinta da Regaleira, pela rampa da Pena, pela Fonte da Pipa e pelo palácio que lhe dá nome Seteais que neste momento funciona como hotel. Grau de dificuldade: Exigente
Curiosidade: Lenda de Seteais
Reza a lenda que destacado para ocupar o castelo mouro de Sintra, Mendes de Paiva depara-se com a bela princesa moura Anasir acompanhada da sua aia Zuleima. Terá sido amor à primeira vista, mas assustada Anasir gritou. Intrigado Mendes de Paiva continuou a investida em direção à inimiga, levando Anasir a gritar uma vez mais.
Zuleima pediu então à princesa que não soltasse mais nenhum aí, mas perante a chegada do exército cristão Anasir não se conteve e tornou a gritar. Rendido aos encantos da beldade, Dom Mendes de Paiva decide esconder a princesa e a aia numa casa nas redondezas. Mas pouco tempo depois a casa começou a ser vigiada por mouros e Zuleima, a aia, não teve dúvidas tratar-se do noivo da princesa ansioso por castigar a traição da moura. Zuleima confidenciou, entretanto a Dom Mendes de Paiva que uma feiticeira tinha vaticinado que ao sétimo “ai” que desse, Anasir morreria…Curiosa e brincando com essa premonição Anasir solta o quinto e o sexto “ais”. Pouco tempo depois enquanto Dom Mendes se encontrava numa batalha, o príncipe mouro capturou a princesa levando a beldade a soltar o sétimo “ai” depois de desferir o golpe fatal.
De coração ferido para toda a eternidade quando regressou da batalha Dom Mendes decidiu chamar aquele lugar Seteais, em honra da amada.
Onde passar uma boa noite?
Casa do Vinho Sintra Guest House – Hotel aderente Cartão Hotéis de Campo
Palácio de Sintra Boutique House – Hotel aderente Cartão Hotéis de Campo
Quinta de São Thiago – Hotel aderente Cartão Hotéis de Campo
ONDE COMER
Capinha d’Óbidos Rua Direita Galeria, Óbidos. Tel. +351 262 958 034
Adega Do Careca Rua da Água Doce, 12, Atalaia. Tel. +351 261 422 775
Curral dos Caprinos Rua 28 de Setembro, Sintra. Tel. +351 219 233 113
Taverna dos Trovadores Praça Dom Fernando II ,18, Sintra. Tel. +351 219 233 548
Páteo – Bairro do Avillez Rua Nova da Trindade, 18, Lisboa. Tel. +351 215 830 290